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Matriz Energética brasileira

Durante o ano de 2001, o Brasil passou por uma grave crise energética, que ficou conhecida como apagão”. Essa crise foi resultado do aumento do consumo somado a um mau planejamento que não previu a insuficiência da geração de energia no Brasil em relação à demanda; principalmente em períodos de estiagem (como a que houve naquele ano), visto que boa parte da energia do país é proveniente de hidrelétricas.

De acordo com estudos do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), existe um grande risco de o país sofrer um novo apagão no futuro, principalmente nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, onde o volume de consumo e a produção de energia não estão equilibrados, e a proximidade de utilização máxima do que é produzido está muito grande. A produção energética está totalmente atrelada ao volume de chuvas, o que significa que, se o volume pluviométrico for menor, o risco de déficit energético é muito alto.

Nos países ricos, a geração de energia é feita de diversas formas, justamente para conseguir garantir seu desenvolvimento econômico. Atualmente, o Brasil está buscando ampliar o conjunto dos recursos de energia de uma sociedade e suas formas de uso. A matriz abrange as fontes de energia (petróleo, água, carvão), a tecnologia de geração (mecânica, nuclear) e a forma de consumo (eletricidade, combustível). Dentre as principais fontes de energia no Brasil, destacam-se o petróleo e seus derivados, água, carvão vegetal e mineral, gás natural, lenha e bagaço da cana.

O petróleo

A extração do petróleo em solo brasileiro é de certa forma recente, já que ocorreu pela primeira vez em 1938, na cidade de Lobato (BA).

Petrobras

Em 1953, sob o lema “o petróleo é nosso”, Getúlio Vargas criou a Petrobras e determinou o monopólio da extração desse mineral, fato que durou até 1995, embora, no período entre 1975 e 1988, tenha havido uma abertura para algumas empresas estrangeiras. Essas empresas assinavam contratos de risco, em que assumiam uma área de prospecção, mesmo sem ter a certeza de que naquele ponto haveria petróleo.

Nenhuma empresa encontrou petróleo. Tal abertura aconteceu nesse período pela perda da capacidade de investimentos da Petrobras, logo após a crise do petróleo de 1973. Essa abertura prévia foi suspensa pela constituição de 1988, que determinava a extração como monopólio nacional. Mas, em 1995, dentro do conjunto de medidas de abertura econômica, ocorreu o fim desse monopólio. A partir daí, a Petrobras começou a atuar como multinacional.

Atualmente a Petrobras é uma das grandes empresas petrolíferas do mundo (28º maior empresa do mundo, em 2011, quinto lugar na classificação das maiores petrolíferas de capital aberto do mundo. Em valor de mercado, a segunda maior empresa do continente americano e a quarta maior do mundo. Em setembro de 2010, passou a ser a segunda maior empresa de energia do mundo, sempre em termos de valor de mercado, segundo dados da Bloomberg e da Agência Brasil) , presente em muitos países, possuindo refinarias, usinas termoelétricas, usinas eólicas, navios próprios e milhares de dutos. Como a maior parte do petróleo brasileiro está junto à plataforma continental, a Petrobras se tornou líder mundial de prospecção em águas profundas.

A área de maior destaque localiza-se na Bacia de Campos, situada na costa norte do litoral do Rio de Janeiro, estendendo-se até o sul do estado do Espírito Santo. Trata-se de uma formação de bacia sedimentar responsável por aproximadamente 80% da exploração nacional de petróleo, realizada principalmente na cidade de Macaé (RJ).

Outro grande destaque da exploração petrolífera no Brasil é a reserva de pré-sal, que se estende do litoral de Santa Catarina até o Espírito Santo, e foi descoberta no ano de 2006. Trata-se de uma importante reserva de petróleo e gás natural, de alto valor comercial, localizada entre 1000 a 2000 metros de profundidade, após a camada de sal.

Vargas com a mão banhada em petróleo, 1956, ato simbólico do inicio da exploração petrolífera no Brasil.

Os logos da empresa, na primeira imagem, na década de 60, e a atual

Por essa reserva estar localizada em águas profundas, o custo de exploração é bastante alto. A empresa estatal Petrobras já possui tecnologia para explorá-la e iniciou a prospecção do petróleo e gás natural no ano de 2008.

Apesar das recentes descobertas, infelizmente os casos de corrupção da Petrobras fizeram com que a empresa perdesse força e credibilidade no mercado internacional. Depois de divulgados os escândalos de corrupção por meio da operação Lava Jato, as ações da empresa entraram em forte queda.

Muito do dinheiro que poderia ser utilizado para o investimento em tecnologia, foi desviado por empresários ligados à estatal, por funcionários de alto escalão da Petrobras e para interesses de determinados políticos e partidos envolvidos no esquema de corrupção. Diante desse cenário, a situação de grandeza da Petrobras tornou-se incerta.

Consumo de derivados do petróleo

O óleo diesel é o combustível mais consumido no transporte brasileiro. Era um combustível barato na década de 1950, o que gerou a ampliação de seu consumo, que atualmente não consegue ser suprido pelas refinarias brasileiras, precisando parte dele ser importado, o que o torna mais caro. O mesmo fato ocorre com o gás liquefeito de petróleo (GLP), mais conhecido como gás de cozinha.

Matriz energética no Brasil

A energia no Brasil é majoritariamente produzida por usinas hidrelétricas. Temos uma produção energética pouco diversificada e muito dependente do regime das chuvas, o que poderá acarretar entraves para o crescimento do país. 

O Brasil tornou-se autossuficiente na produção de petróleo, pela primeira vez, em 2006, permaneceu produzindo tanto quanto consumia até 2011, quando a conta voltou a ficar negativa. De acordo com projeções, apenas em 2020, a extração, processamento e produção de derivados de petróleo atenderão

à demanda interna de maneira contínua. Visando diminuir o uso do petróleo, incentiva-se a utilização de outras fontes de energia, como a hidroeletricidade, o álcool etílico, o biodiesel etc.

O crescimento econômico do Brasil representa um aumento da demanda de energia elétrica. Conforme abordado, o consumo de energia está no limite da capacidade instalada de obtenção de energia, o que irá resultar em importantes desafios ao país para ampliação de sua capacidade produtiva. De acordo com o Ministério de Minas e Energia, o consumo per capita de energia elétrica no Brasil aumentará cerca de 45% em relação ao atual, alcançando 3 561 kWh/ano em 2020.

Para sustentar o crescimento econômico projetado, estima-se que o Brasil necessitará de investimentos superiores a R$ 380 bilhões no setor de geração de energia elétrica até 2022. Para aumentar a oferta de energia elétrica, o Brasil vem investindo em projetos de construção de hidrelétricas na região amazônica, por ter um alto potencial hidrelétrico. Um exemplo é a Usina Hidrelétrica de Belo Monte construída no Rio Xingu, inaugurada em meados de 2016

A construção dessa usina foi iniciada em 2011 e, segundo a empresa responsável pela construção e operação, deve terminar em 2019. Esse projeto criou grande polêmica com ambientalistas nacionais e internacionais. Essa usina afetará os municípios paraenses de Altamira, Vitória do Xingu, Senador José Porfírio, Brasil Novo e Anapu.

O custo da obra supera 30 bilhões de reais, e a usina produzirá entre 4 500 MW e 11 000 MW de energia. De acordo com estimativas do Ministério do Meio Ambiente e do Ministério de Minas e Energia, a produção atenderá cerca de 60 milhões de pessoas e 18 milhões de residências. Para o governo, essa usina é essencial para atender à demanda energética do país, e contribuirá com seu desenvolvimento produtivo. Já os ambientalistas e moradores da região afetada alegam que os custos sociais e ambientais serão incalculáveis, uma vez que, com a barragem, comunidades indígenas e ribeirinhas serão retiradas de seus locais de vivência e de onde provém parte da produção para sua subsistência. Além disso, para os ambientalistas, a produtividade energética da hidrelétrica será baixa e beneficiará uma pequena parcela da população brasileira, cuja demanda poderia ser atendida com a modernização das usinas já existentes no país. A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, associação criada em 2005, é uma das responsáveis pelas mobilizações para garantir os direitos dos povos indígenas em casos de ameaças à cultura e à permanência nas terras, e tem sido uma das responsáveis pelos diálogos com o governo federal com intuito de garantir a homologação das terras indígenas que estão previstas no licenciamento ambiental da Usina de Belo Monte.

Energia elétrica

Corresponde atualmente a 13,8% da energia consumida no Brasil, sendo obtida, principalmente, por meio de usinas hidrelétricas, devido à grande disponibilidade de rios de planalto em nosso território. Também é muito produzida por usinas termoelétricas, movidas a carvão ou por derivados do petróleo. A energia nuclear e algumas fontes alternativas ocupam pequeno espaço na produção de energia elétrica no Brasil.

Usinas hidrelétricas

 

O Brasil é o país com o maior potencial hídrico do mundo, que acaba sendo utilizado para a geração de eletricidade.

Desde que D. Pedro II, em 1883, inaugurou o primeiro serviço elétrico de iluminação pública, gradativamente, a eletricidade tem sido cada vez mais utilizada.

Companhias estrangeiras produziam a energia utilizando usinas movidas a água ou a óleo, vendendo a eletricidade gerada. Com a crise de 1929, a maioria das empresas retirou-se do país, fazendo com que o Estado assumisse o setor. Na busca pela modernização da economia, por meio da industrialização, houve a construção de hidrelétricas, como a do Vale do Rio São Francisco, em 1945.

No governo militar, com a crescente demanda de energia elétrica aliada à crise do petróleo, houve grandes investimentos no setor, até porque era importante aumentar a produção, tendo em vista uma política desenvolvimentista característica do “milagre econômico”. Nesse período, foram construídas as maiores usinas hidrelétricas do país.

A principal é a Itaipu, no Rio Paraná, feita em conjunto com o Paraguai, sendo a energia gerada dividida em 50% para cada país, além de ter sido a maior hidrelétrica do mundo na época de sua inauguração (ao lado, o quadro comparativo da usina de Três Gargantas, na China, considerada a maior do mundo).

A Usina de Itaipu Binacional começou a ser construída em 1974 e foi oficialmente inaugurada em novembro de 1982, mas a produção de energia só ocorreu em 1984. Com capacidade de geração de 14 000  MW/h, em 20 unidades geradoras, o auge da produção ocorreu no ano de 2016, com a geração de 103 milhões de MW/h. A usina atende cerca de 17% da demanda energética do Brasil. A Usina de Itaipu é considerada uma das duas maiores hidrelétricas do mundo, junto com a de Três Gargantas, na China, que já atingiu uma produção anual de 98,8 milhões de MW/h, em 2014.

Por outro lado, ao ser construída, a usina causou grandes impactos sociais e ambientais nas localidades próximas ao rio Paraná. Houve a desapropriação de vilas e comunidades, assim como a alteração ambiental decorrente da inundação de áreas de mata nativa e de terras agricultáveis. Sete Quedas, um dos maiores símbolos naturais do Paraná, foi submergida para a construção da hidrelétrica, gerando na época muitos protestos pela população.

Outra usina hidrelétrica construída nesse período foi a de Tucuruí, no Pará, junto ao Rio Tocantins. É a segunda maior do país, e está voltada para o abastecimento das indústrias mineradoras do Projeto Grande Carajás.

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Imagem aérea  (antes) e depois da construção da Usina Bi-nacional de Itaipu

Entretanto, essas hidrelétricas, quando mal construídas, podem causar grandes impactos ambientais. Um bom exemplo desse fato é a usina de Balbina, no Amazonas. Essa usina foi construída em terreno plano e provocou a inundação de uma área de 2 360 km² e, mesmo assim, só consegue suprir metade da energia necessária para abastecer Manaus. Isso não significa que não seja possível a instalação de hidrelétricas na bacia do Rio Amazonas, pois cerca de 40% do potencial hídrico disponível para a instalação de usinas no país está nessa área. Vale lembrar que a bacia mais utilizada é a do Paraná, pois se localiza em área de planalto e concentra a maior parte da população e das indústrias brasileiras. O potencial hidrelétrico brasileiro está entre os cinco maiores do planeta, pois aproximadamente 12% de toda a água doce superficial do globo encontra-se no território brasileiro. O potencial técnico é estimado em cerca de 260 GW, 40,5% dele está localizado na região hidrográfica do Amazonas. 

Usinas termoelétricas

Em um país como o Brasil, a energia elétrica poderia ser praticamente toda gerada por hidrelétricas. Contudo, existem locais onde os rios não oferecem tantas condições de aproveitamento, como nas áreas de planície, sendo então necessária outra forma de obtenção de energia, um bom exemplo disso são as termoelétricas.

Carvão

Nas depressões periféricas do sul do Brasil, é possível encontrarmos o carvão mineral, importante fonte de energia que pode ser utilizada no aquecimento de caldeiras para a geração de energia elétrica. Isso barateia os custos de instalação e de transporte para a geração de energia no sul do país. A usina termoelétrica de Candiota, no extremo sul gaúcho, é um exemplo de usina que funciona à base de carvão.

Entretanto, esse mineral é encontrado de forma muito modesta na região, o que não permite o abastecimento de todo o país, até porque o tipo de carvão extraído não atingiu o estágio de hulha (exceto em algumas áreas de Santa Catarina), possuindo, portanto, pouco teor calorífico.

 

Gás natural e outros

Nos últimos anos, tem aumentado a utilização de gás natural no país, seja como combustível de carro, seja como fonte de energia necessária para aquecer caldeiras de usinas termoelétricas. Boa parte desse aumento está relacionado ao aumento da extração de gás natural no país nas últimas décadas. Além disso, houve a construção do gasoduto Bolívia-Brasil, que permitiu ao Brasil abastecer o Centro-Sul do país com esse importante combustível, que é mais barato e menos poluente que o petróleo. Além disso, foi construída em Uruguaiana uma usina termoelétrica à base de gás natural vindo da Argentina.

Outra fonte utilizada em termoelétricas é o óleo diesel, esse tipo de usina está espalhada por todo o país. Merece destaque a termoelétrica a óleo diesel instalada em Manaus. 

A utilização do xisto como fonte de energia em termoelétricas foi uma tentativa feita pela Petrobras em Irati (PR), e fracassou perante o alto custo, necessário para a operação.

O bagaço da cana está sendo utilizado por usinas de álcool, visando gerar energia para essas propriedades localizadas em São Paulo.

Usinas termonucleares

A geração de energia elétrica por meio de usinas termonucleares é uma das formas mais comuns existentes no mundo. Apesar de ser perigosa, boa parte dos países, principalmente os ricos, utilizam-na devido às poucas possibilidades que alguns deles têm de utilizarem hidrelétricas, por não disporem de rios de planalto, o que não é o caso brasileiro. No entanto, em 1969, durante o governo militar, houve a compra da usina de Angra I da W. Westinghouse (EUA), com geração de 626 MW, ou seja, 5% do que produz a Itaipu, sem haver transferência de tecnologia. Como está sobre uma falha geológica, vive com problemas técnicos, sendo chamada de “vaga-lume”, por frequentemente acender e apagar. Em 1975, houve um acordo com a Siemens, da Alemanha, para a construção de oito usinas com transferência de tecnologia. Houve um gasto de bilhões de dólares para apenas iniciar as obras de Angra II e III. A usina de Angra II está desde 1999 liberada para testes. Esse tipo de energia colabora com aproximadamente 1,5% da geração de eletricidade no país.

Como recurso é utilizado o urânio, encontrado em jazidas de Minas Gerais e do Ceará. O Brasil, hoje, domina o processo de enriquecimento do urânio.

Geração alternativa de energia elétrica

Outras alternativas têm sido utilizadas na geração de energia elétrica, destacando-se a energia eólica. A energia gerada em grandes cata-ventos tem sido uma alternativa viável para estados costeiros. O Ceará já conta com usinas desse tipo. O Rio Grande do Sul é outra área do país que já assinou acordo com empresas estrangeiras para a instalação desse tipo de usina.

Outras formas estão sendo estudadas, como a força das ondas e das marés, na região Nordeste. Entretanto, a energia gerada por essas fontes não é capaz de abastecer grandes núcleos populacionais. A energia solar é outra possibilidade extremamente positiva, pois o território brasileiro apresenta características físicas que favorecem a produção desse tipo de energia. Em 2002, foi criado o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas, entretanto, o custo dos equipamentos e a instalação de painéis fotovoltaicos ainda são uma barreira para esse tipo de fonte energética.

Biocombustíveis

O álcool é uma boa alternativa para a substituição de combustíveis derivados do petróleo. Porém, foi descartado após o fracasso do Pro-álcool. Criado em 1975 pelo governo militar após a crise do petróleo de 1973, o Pro-álcool buscou dar incentivo para a fabricação desse combustível, visando diminuir o número de importações de petróleo.

Com isso, o consumo desse combustível aumentou bastante na década de 1980, entretanto, nos anos de 1990, a partir da estabilização do preço do petróleo no mercado internacional, houve uma queda no consumo do biocombustível. Para segurar o Pro-álcool, o governo teve que subsidiar muito a produção, tornando esse programa extremamente deficitário.

Porém, o consumo do álcool voltou a aumentar com a criação dos carros biocombustíveis que possibilitam a utilização tanto da gasolina quanto do álcool.

Outra opção que vem se difundindo no Brasil na última década é a produção e o consumo de biocombustíveis obtidos a partir de plantas como o girassol, o amendoim, a mamona, a soja, o milho, a palma, entre outras. Atualmente, a maior parte dos biocombustíveis brasileiros é proveniente da soja, que apesar da desvantagem de apresentar um dos menores teores oleaginosos por peso, em comparação com outras culturas, tem rápido ciclo de produção e a possibilidade de armazenagem por longos períodos, o que contribui para a escolha desse tipo de matéria-prima.

De acordo com a Agência Nacional do Petróleo (ANP), a produção e o consumo de biocombustíveis brasileiros estão entre os maiores do mundo.

Acima a sede da empresa na cidade do Rio de Janeiro, segunda imagem, sede da empresa na capital paulista

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